O jovem Yuri Leitão, campeão olímpico em Paris, no ano passado, foi a estrela que mais reluziu no palco do Teatro Maria Matos, repleto de desportistas que vibraram com os vários momentos proporcionados na noite da distinção dos melhores do desporto nacional na época 2024/2025.
Primeiro, porque foi chamado por três vezes para receber outras tantas distinções com que foi brindado, começando por ser o Atleta Masculino do Ano, depois a Equipa do Ano (com Rui Oliveira) – que conquistaram a medalha de prata também em Paris – e finalizou com o Prémio Ética no Desporto, que respeitou a um momento de fair play, ainda em Paris, ao ver o seu adversário principal a cair na pista e não arrancando para uma vitória (e mais uma medalha de ouro) que seria fácil alcançar, antes preferindo resguardar-se no pelotão e esperar que o adversário recuperasse, que deu ainda origem a um Prémio Internacional de Fair Play, recebido há dias fora de Portugal.
No evento, promovido pela Confederação do Desporto de Portugal, que marcou a 28ª edição, foram ainda atribuídos galardões aos protagonistas do desporto nacional durante o ano de 2024, seguindo-se a Atleta Feminina do Ano: Patrícia Sampaio, Atleta do Ano – Desporto Adaptado: Diogo Cancela, Jovem Promessa do Ano: Francisco Costa e Treinador do Ano: Rúben Amorim.
Nesta Gala do Desporto de Portugal foram ainda homenageados os campeões do mundo e da Europa, individuais e coletivos, que se distinguiram ao longo de 2024, bem como dos medalhados olímpicos e paralímpicos de Paris 2024.
Foi ainda distinguido José Manuel Constantino, antigo Presidente do Comité Olímpico de Portugal e da CDP, com o Prémio Mérito Desportivo Alto Prestígio, num momento de alto significado sócio desportivo que mereceu a maior salva de palmas, com todos os presentes em pé, tendo os dois filhos do malogrado dirigente – falecido em Agosto do ano passado – agradecido todas as homenagens que tem sido feitas ao pai pelo extraordinário trabalho desenvolvido em prol do desporto português ao longo de mais de cinquenta anos, tendo sido divulgado algumas imagens de um vídeo que estará disponível em breve no Youtube da Confederação.
Dentro dos momentos mais simbólicos da agenda desportiva nacional, foi ainda distinguido o Ginásio Clube Português – em parceria com a Câmara Municipal de Lisboa – que está a comemorar os 150 anos de vida – coletividade que foi recentemente condecorada, pelo presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Os campeões e medalhados olímpicos, mundiais e europeus também foram distinguidos pela CDP, numa cerimónia transmitida em direto pela SporTTv.
Pedro Dias, secretário de Estado do Desporto, abordou a importância do impacte que estes tipos de homenagens deixam na família desportiva portuguesa e outras questões ligadas ao desporto, mormente quanto ao seu financeiro, como que “respondendo” ao repto lançado por Daniel Monteiro, presidente da Confederação, quando sugeriu ao governo para criar um “Fundo de Desenvolvimento do Desporto”, a que daria o nome de “José Manuel Constantino”.
Para o presidente da CDP, no discurso feito, “o país esquece-se tantas vezes que por detrás de um Atleta está uma Pessoa. Um ser humano. Que, no dia em que triunfa, não se torna invencível, nem no dia em que sai derrotado é perdedor. Mas esses, os atletas, já subiram ao palco. Por isso, sem nunca esquecer treinadores, equipas técnicas e tantos outros que também são imprescindíveis, permitam-me que agradeça, de forma especial, a todos aqueles que, mesmo sem subirem a palco, são o suporte e o equilíbrio fundamentais para que desistir nunca seja possível para estes seres humanos transcendentes: refiro-me às suas famílias!”
Prosseguiu referindo que “é da mais elementar justiça reconhecermos aqueles que nos bastidores vão dando este apoio diário, libertando o atleta para se concentrar nos seus objetivos. Peço-vos uma salva de palmas para todos os campeões aqui homenageados e para as famílias de todos os atletas que fazem das tripas coração para que nunca lhes falte nada!”
Numa segunda palavra, “esta cadeia de apoio tem de ser dada aos clubes. Em Portugal, a profissionalização do desporto tem dado passos importantes em várias áreas e modalidades, mas os clubes continuam a ser, na esmagadora maioria dos casos, geridos de forma voluntária, com esforço de dirigentes que procuram dar as melhores condições aos seus atletas e treinadores ao mesmo tempo que têm, também eles, um emprego e uma família”.
Pelo que, continuando, “o empenho, espalhado por todo o país, de dirigentes, pais e encarregados de educação para manter a atividade desportiva regular nos clubes, é a base do funcionamento e sustentabilidade do desporto em Portugal. São eles o motor principal do setor, que o faz manter vivo e apresentar resultados bem acima das justas expectativas criadas pela realidade associativa frágil que o país apresenta”.
Referiu ainda que “este é um ano preponderante para o desporto português. O início de um novo ciclo olímpico marcou também uma renovação do movimento federativo português, com novos protagonistas, novas ideias e uma vontade renovada para ir mais longe. Mas não seria justo falar do sangue novo, sem referir o legado que deixam os que cumpriram os seus mandatos e terminaram os seus ciclos nas federações desportivas. Ao longo dos últimos anos, vários dirigentes deixaram o desporto mais forte, reforçando a dimensão de muitas modalidades e cimentando a competência e a qualidade do desporto nacional.
Não podemos desperdiçar a vontade e o empenho que as federações desportivas estão a depositar no desenvolvimento das suas modalidades, dos seus atletas e dos seus clubes. O desporto tem um potencial social muito superior ao impacto atual, mas precisa de uma valorização efetiva por parte do Estado.
Precisamos que as políticas públicas sejam orientadas para a oferta desportiva, reforçando as condições técnicas, tecnológicas e financeiras das federações, associações e clubes; que permita às famílias confiar na segurança e qualidade oferecidas; mas necessitamos também de um estímulo pelo lado da procura: criando um pacote fiscal de incentivos às famílias, para que o Desporto chegue mesmo a todos e não apenas aos que mais têm. Planear. Decidir, executar e concretizar. É o que se exige ao Estado. O Desporto está há demasiados anos sem reformas estruturais. E, sem elas, continuaremos a desperdiçar o esforço feito por todo o sistema. Este é o momento para o País agir – porque o tempo que se perde no Desporto é tempo perdido no futuro”.
Precisando, Daniel Monteiro salientou também que “com o modelo proposto pela Confederação do Desporto de Portugal e pelas federações desportivas o Estado não sai prejudicado. Continua até a ser o beneficiário principal e não perde um único euro face ao que recebe atualmente.
A disponibilidade das federações para se unirem em torno desta proposta é um sinal político muito relevante, que não pode ser desperdiçado e que tem de ser acompanhado pelo Governo.
Não podemos ter um país em que uma federação desportiva é forçada a deixar de levar atletas a campeonatos da europa ou do mundo por falta de condições financeiras. Não podemos ter um país em que uma federação desportiva tem de decidir entre integrar numa comitiva um treinador-adjunto ou um fisioterapeuta. Não podemos ter um país em que uma federação desportiva é obrigada a escolher entre participar numa competição internacional ou investir nos seus clubes. É como pedir a alguém para escolher entre dois filhos. É a realidade de hoje. Não é aceitável e, sobretudo, não é justo”.
Adiantou ainda que “o Estado central continua a investir, aos dias de hoje, menos de 10 por cento do custo total do desporto em Portugal, atribuindo a responsabilidade de sustentar a atividade desportiva às autarquias, mas principalmente às famílias portuguesas. O reforço do financiamento às atividades regulares das federações desportivas é fulcral se queremos ter mais crianças e jovens a experimentar e a aceder ao Desporto, se queremos ter um processo formativo mais seguro e com melhor qualidade, se queremos ter clubes com melhores estruturas de apoio a atletas e se queremos ter equipas técnicas mais robustas e qualificadas dedicadas às nossas seleções nacionais”.
Frisou que “o modelo de financiamento do Desporto nacional tem de ser revisto. E é ao IPDJ que compete liderar essa transformação. Dotando este Instituto Público de mais recursos será possível implementar um modelo mais ambicioso, voltado mais para o futuro e para o desenvolvimento das modalidades e menos agarrado a fatores históricos de financiamento e à política do “sempre foi assim”. Só o IPDJ pode garantir, de forma independente, equidistante e transparente o apoio regular às federações, independentemente dos ciclos políticos, garantindo o regular funcionamento das temporadas desportivas. Serei, sempre, um defensor acérrimo da independência do Estado na atribuição de verbas públicas a entidades associativas!
A identificação dos problemas do desporto nacional e as exigências de maior reconhecimento social e político para o setor, concluem numa ideia e numa pessoa”.
“José Manuel Constantino foi alguém que ousou sempre. Que fez da insubmissão forma de estar na vida. Que dedicou a vida a uma causa que passou a ser muito sua. É por isso que quero aproveitar esta ocasião para deixar uma proposta ao Governo e ao IPDJ. Este sinal dado por todas as federações desportivas nacionais para a criação de um Fundo de Desenvolvimento Desportivo é um sinal que representa o legado e a visão de José Manuel Constantino e é por isso que este Fundo não pode ter outro nome que não seja: Fundo José Manuel Constantino, que represente através do seu nome o reforço do investimento no desenvolvimento das modalidades!
A valorização social do desporto é uma luta sempre inacabada, mas aos dias de hoje o Estado pode dar um importante sinal, ouvindo os que diariamente estão no terreno – as federações desportivas -, para melhorar políticas públicas que valorizem mais o Desporto Nacional.
Como dizia José Manuel Constantino, “O desporto é um bem público… que socialmente vale mais do que custa”.