Ainda que em épocas completamente diferentes – com a segunda guerra mundial de permeio – e outros fatores que forjaram a sua mente e forma de estar na vida, em especial no decorrer dos 27 anos que esteve preso nas cadeias da África do Sul e no que fez após se ter salvado desse terrível tempo, temos de considerar que não haverá outro Nelson Mandela.
Com o mundo armado até aos dentes – como se vai vendo um pouco por todo o lado nos dias que correm – por força do (mau) ego de pessoas (?) que apenas pensam no seu umbigo e não numa humanidade em que, tal como deixou Mandela nas suas frases, explícitas, de como entendia o mundo (“sonho com o dia em que todos levantar-se-ão e compreenderão que foram feitos para viverem como irmãos”), não se acredita que algo de positivo para o ser humano surja na franja das ciências sociais, pensando no bem estar de todos.
Nesta sexta-feira, dia em que se assinalou a data do nascimento (18 de Julho de 1918) do bravo sul africano que acabou por dar ao seu povo não só a liberdade, mas uma nova imagem do que quereria que fossem os seus concidadãos, como se foi provando nos anos em que cumpriu o primeiro mandato como Presidente da República da África do Sul, tendo quase conseguido atingir a meta de “todos viverem como irmãos”.
O Dia Internacional Nelson Mandela, uma data instituída pelas Nações Unidas para homenagear o legado de um dos maiores símbolos da luta pela liberdade, igualdade e justiça, assunto que foi tema de mais uma sessão promovida pelo Panathlon Clube de Lisboa, como tivemos oportunidade de salientar aqui na www.jogadadomes.pt.
Numa conversa a dois, moderada pelo membro do Conselho Diretivo do Panathlon, Carla Chicau Borrego, Maria do Céu Batista (docente convidada na Universidade Nacional de Timor Lorosa’e) e
Alexandre Honrado (Diretor do Núcleo de Investigação Nelson Mandela, Universidade Lusófona) tiveram oportunidade de balancear na importância do tema, volvidos quase doze anos após o falecimento (5 de dezembro de 2013) deste enorme estadista, homem do povo.
“Intolerante por natureza, Nelson Mandela nunca desistiu de lutar, na procura dos caminhos para encontrar o que faria para o povo sul africano na transposição para um regime com liberdade e dignidade, como o ser humano devia ser tratado”, recordou Alexandre Honrado, tendo acrescentado que “na internet ainda se encontram referências a Nelson Mandela que não são verdade, mas que continuam sem ser filtradas, por motivos variados, surgindo aqui um dos principais perigos da atualidade no que concerne ao conhecimento correto da história”, tendo passado em revista textos e situações que, ainda que reais, foram deturpadas.
Um perigo que cada vez mais se nota na média que, por uma ou outra razão, não consegue confirmar o que foi real, porquanto não há contraditório, surgindo a discriminação que é cruel e que, sendo discriminativa, poderá ser criminalizada.
No âmbito do desporto – de que foi glória o filme INVICTUS (2009), pelo seu conteúdo e impacte mundial que teve – continuam a existir preconceitos de matizes diferenciados, abordados sob vários prismas, que o Prof. Manuel Sérgio trouxe para a discussão nacional, em face de uma tangência religiosa, que tem levado Escolas e Faculdades a avaliar outras formas de intervenção no quadro da pedagogia, confrontando com o vetor mais “real” da violência associada ao desporto (dentro ou fora dos recintos desportivos) como Alexandre Honrado salientou.
Para Maria do Céu Batista, que entrou em linha com a frase de que “o desporto é o caminho alternativo à guerra”, percebeu-se que, enquanto professora licenciada em Educação Física, o “futebol é uma religião” – como salientou, face aos comportamentos que adultos e jovens demonstram quando na atividade, ainda que “também há atitudes e atos que se coadunam com uma vida normal, na sociedade em geral e na escola em particular, em que todos tentem seguir o lado mais positivo nos princípios éticos e educativos”, tendo referido a situação dos alunos serem designados para dirigir (arbitragem) os jogos, num processo em que os mais novos e os mais antigos se entreajudam.
Como transmitir o Legado de Nelson Mandela, para que não se perca para o futuro, foi comum a opinião de que o trabalho se tem de desenvolver junto das escolas e dos clubes (abrangendo toda a comunidade), se bem que, para Alexandre Honrado “é fundamental haver Memória”, numa altura em que a comunicação social “deixou de ser promotora do desporto, em cooperação com as instituições, passando a ser também um interveniente que não ajuda a atingir o fair play e o desportivismo que se pretende na procura dos valores éticos”.
Nas redes sociais, Maria do Céu Batista confessou que sente “um ambiente assustador e em que uma grande percentagem do descrito é negativo, em especial para os jovens”, o que não ajuda na promoção dos Valores que se pretendem para fazer melhores homens e mulheres.
Sobre se identificam alguém – respondendo a “provocação” de Carla Borrego, Maria do Céu Batista e Alexandre Honrado foram unânimes em afirmar que não “encontram qualquer figura semelhante, ainda que possa haver candidatos”.
Uma sessão ativa, na hora certa, em que se relembrou a personalidade de Nelson Mandela, ficando mais uma das frases basilares, para reflexão, num mundo que parece estar a tornar-se mais selvagem: “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.