Sábado 27 de Abril de 2024

Após 14 anos de carreira: Vanessa Fernandes não aguentou pressão

Com 25 anos de idade (26 apenas em Setembro próximo), a jovem Vanessa Fernandes não aguentou a pressão quer foi surgindo ao longo dos últimos anos – especialmente desde que se sagrou campeã mundial e europeia, vencedora do maior número de taças do Mundo e que culminou com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim (no já tão distante ano de 2008) – entrando em 2009 sem grande expectativa de empenho e chegando a 2010 ainda pior.

Haverá, por certo, muitas razões para se chegar até aqui. O prazer de praticar, de andar na alta-roda, de ser como que uma “rainha”, tratada e acarinhada por toda a gente com as palmas das mãos não fosse acontecer-lhe algum mal, deixou de existir logo após a desmotivação que foi a não conquista do ouro em Pequim.

Os que de mais perto lidam com estas coisas do desporto – longe das futebolices em que muitos querem “ensacar” todo o desporto – e, em especial, os que praticaram desporto, sabem que uma vida de alta competição é extremamente difícil, pelas exigências que obriga, motivo pelo qual, aliás, o caminho para chegar às medalhas nas principais competições (olimpíadas, mundiais e europeus absolutos) está pejado de obstáculos, um dos quais o de origem psicológica.

Muito se tem falado da importância do acompanhamento psicológico não só das nossas estrelas – apenas no termo do bom sentido, de ser brilhante, cintilante, etc – como de outros atletas que tem qualidades para entrar neste escalão. Só que, até agora, não parece existir um trabalho sistemático que, por exemplo, pudesse ter ajudado Vanessa a não chegar ao ponto a que chegou.

Com 14 anos apenas, Vanessa começou a dar nas vistas. Pouco tempo depois, entrou para o Centro de Estágio da Cruz Quebrada (ora Centro de Alto Rendimento) onde fazia, praticamente, toda a sua vida escolar e desportiva.

Recorda-se que a ascensão de Vanessa foi fulgurante. Aos 18 anos (quatro anos depois de se ter iniciado na slides), ainda júnior, venceu a primeira Taça do Mundo, em Madrid, e sagrou-se campeã europeia da categoria (2003). Até à medalha de prata em Pequim foi um “ver se te avias”: campeã europeia de juniores, de sub-23, de elites; campeã mundial de juniores e de elites; vencedora de 20 Taças do Mundo.

Sendo uma atleta fora de série, porque cumpriu escrupulosamente tudo o que foi dito – ou imposto – por técnicos, dirigentes e quiçá o próprio pai, provavelmente a querer rever-se na filha – com todo o profissionalismo (embora ainda não o sendo na plenitude da sua verde juventude, Vanessa subiu vertiginosamente sem pensar muito. Quando se consegue chegar e andar durante algum tempo na alta roda, tudo corre bem. Não há que pensar.

E quando isso acontece, não se pensa em nada. O que é aproveitado por pseudo gestores/empresários que logo tratam de agenciar as suas “pérolas”. O que, muitas vezes, não dá resultado. Ou resulta também no que se está a passar com a Vanessa. Queremos acreditar que este momento menos positivo se deve a problemas de saúde – como foi anunciado pela própria atleta. Por isso, também queremos desejar que esses problemas sejam ultrapassados, não com pressa, mas com a certeza de que pode regressar física e psicologicamente capaz de voltar ao seu nível.

O trabalho de “sapa”, como se diz gíria, tem de ser feito com método, estudando cada pormenor até quase à exaustão.

Ficamos a aguardar que as boas notícias surjam a tempo de Vanessa poder reentrar na via do sucesso, com Rio de Janeiro no horizonte. Com 30 anos, Vanessa poderá chegará a estes novos Jogos Olímpicos, em 2016, com uma maior força mental, logo com a forma física mais apurada e mais madura, tendo uma disponibilidade mental diferente. Acreditamos e desejamos que possa lá chegar.

Aproveitando a deixa que a Vanessa nos deu – embora não por motivos positivos, como se depreende – é bom que os responsáveis pelas carreiras desportivas de alguns dos melhores atletas portugueses meditem bem sobre este caso.

Que estejam alertas para evitar que outros casos possam surgir com alguma naturalidade, face à pressão que se abate cada vez mais sobre os nossos campeões e medalhados. E com os Jogos Olímpicos de Londres num curto horizonte (daqui a pouco mais de um ano) desejemos, como portugueses, que não surja outro “Vanessa study process”.

Sérgio Luso

 

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